quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Aspectos Neuropsicológicos da Depressão (resumo)

Alterações Estruturais

Através das diversas técnicas de imagiologia cerebral, foi possível, em alguns estudos realizados, detectar alterações em certas regiões cerebrais. Estudos esses, que tendem, na sua grande maioria, a ser razoavelmente consensuais e, por isso, podemos afirmar com significativa certeza de que estas alterações estão efectivamente relacionadas com as perturbações depressivas. No entanto, e como costuma dizer um professor meu, em relação a esta matéria: “Não se sabe ainda ao certo quem nasceu primeiro, se o ovo, se a galinha”, ou seja, será que é a depressão que causa alterações estruturais? Ou serão as alterações estruturais que causam depressão?
Os dados apresentados seguidamente foram resultado da conjunção da consulta de diversas obras.
Indubitavelmente, o fluxo sanguíneo e a actividade metabólica mostram-se diminuídos, principalmente, nas regiões frontais, mas também no resto do cérebro. Sendo que a hipoactivação frontal esquerda está associada a lentificação psicomotora, pobreza da fala e ausência de motivação, e a hipoactivação frontal direita está associada a comportamentos ansiosos e pensamentos afectivamente negativos. Mais especificamente (e de uma perspectiva diferente), em repouso,observa-se, geralmente, menor activação do córtex pré-frontal dorso-lateral, associada aos sintomas de alterações cognitivas, e maior activação do córtex pré-frontal ventro-medial, do córtex pré-frontal orbito-frontal, da amígdala esquerda e da circunvolução cingulada, associada aos sintomas emocionais e de ansiedade. Verifica-se também, em casos de perturbações depressivas com características melancólicas, uma hipoactivação de regiões parieto-temporais direitas. É sabido que o metabolismo pré-frontal tem correlações com a capacidade de resposta clínica aos antidepressivos. Coloca-se ainda a hipótese de que possa ocorrer uma perda celular significativa, nas regiões frontais e temporais.
Como se percebe, as alterações ocorrem em diversas interacções e dinâmicas, englobando diversas regiões cerebrais, e não apenas uma certa estrutura. Isto poderá explicar, até certo ponto, a enorme diversidade semiológica das perturbações depressivas.

Neurotransmissores e Hormonas

         Hoje em dia, a teoria mais consensual sobre a relação entre os neurotransmissores e a depressão, é a denominada “teoria monoaminérgica da depressão”, que nasceu depois da observação dos resultados da aplicação de determinados psicofármacos em determinados indivíduos.
  Teoria essa que se baseia na proposição de que o défice de concentração dos principais neurotransmissores monoaminérgicos, as catecolaminas (dopamina, noradrenalina e serotonina), leva à depressão (pode colocar-se aqui, novamente, a pergunta apresentada acima: quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?). Estes neurotransmissores estão, comprovadamente, relacionados com a sensação de prazer, felicidade, energia positiva, motivação, regulação do apetite, desejo sexual, ansiedade, etc..
  Há quem defenda que esta teoria peca por ser simplista e até redutora, devido à enorme diversidade de funções e áreas cerebrais em que tais neurotransmissores actuam.
  Há também uma outra influente teoria associada à depressão, fortemente relacionada com o sistema endócrino e com o stress. Sendo, portanto, usualmente conhecida como “teoria da disfunção endócrina na depressão” ou “teoria do stressna depressão”.
 Esta tem como base o excesso de libertação, e consequente concentração, da hormona cortisol, aquando da resposta endócrina que é dada numa determinada situação de stress. As situações de stress no dia-a-dia, em quadro normal, activam a produção e libertação de cortisol (pelas glândulas suprarrenais) e de outras hormonas, como forma de resposta física ao medo ou ansiedade, na tentativa de deixar o indivíduo fisiologicamente preparado para actuar, numa situação de “perigo” iminente. Quando o nível de cortisol no sangue atinge uma certa concentração, denominada de concentração óptima (ou seja, uma concentração que já seria suficiente para dar a resposta necessária e adequada a determinada situação), ocorre um outro mecanismo em cadeia (que envolve várias estruturas, entre as quais, o hipotálamo e a hipófise), que ordena e coordena a diminuição da produção e segregação de cortisol.
              Ora, é exactamente no incorrecto funcionamento deste mecanismo de “retro-regulação negativa” que parece estar um dos problemas de uma pessoa com depressão. Sendo que 50 a 70 % dos doentes hospitalizados com diagnóstico de perturbação depressiva, apresentam níveis elevados de glicocorticóides no sangue, no líquido cefalorraquidiano, na saliva ou na urina.



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